Não sei a melhor maneira de começar esta carta. Você sabe o quanto me afogo em minhas próprias palavras. Escrevi, apaguei, escrevi apaguei e resolvi fazer desta a minha última carta para ti. Quero que a noite passada tenha sido a última noite a sonhar contigo. Quero te esquecer por completo. Quero que de ti só fique uma lembrança boa. Algo que lá no futuro irei me lembrar e pensar como foi bom. Não quero mais me alongar nesses pensamentos desnecessários. Cheguei a um momento que sei que não posso mais remoer esse assunto. São águas passadas.
Tudo começou com esse nosso jeito desengonçado e envergonhado. Não sabíamos ao certo como nos tratar, como iniciar uma conversa. Nos prolongamos nos mínimos detalhes. Me fechei sem querer. O medo tomou conta de mim. Medo de não ser o suficiente, de não ter algo recíproco e verdadeiro. Aquilo me perturbou por um tempo. Quando me dei conta, você estava ali ao meu lado. Estava me dando passagem, me deixando entrar em seu mundo, em sua rotina.
Mais uma vez me amedrontei. Fui tão insegura! Fugi por uma semana. Você sumiu por mais de um mês. Mexestes contudo. Balançastes as estribeiras. Pensei que havias ido embora de verdade, me deixado para sempre. Tomei, então, a decisão de te esquecer. Algo em mim gritava que não daríamos certo. Mas algo também gritava que eu o desejava. Era estranho, era confuso e eu não soube lidar com isso. De repente voltastes. Sem nenhum aviso prévio! Aquilo não era justo. Sempre fomos complicados, no passo de tartaruga e aquelas atitudes me inibiam.
De uma maneira não planejada nos aproximamos mais. Ríamos juntos. Adorava seu sorriso. e sua covinha. Adorava suas piadas e seu bichinho de estimação. Adorava seu jeito e o seu andar lento. Adorava o quanto você me fazia rir de coisas bestas. Amava o fato de que tentavas me alegrar quando me vias triste. Brotava um sorriso em mim quando me olhavas de longe, como se cuidasse de mim, como se zelasse pelo meu bem estar. Fazias parecer que nada mais importava. Estou disposta a deixar tudo isso pra lá, assim como você. Certas coisas a gente sabe, desde o início, que não vão dar certo. E não dão mesmo. Não entendo essa necessidade que o ser humano tem de insistir. Burrices do coração.
Quero deixar claro, mais uma vez, que esta é minha última carta para ti. Pelo menos espero que seja. Não gosto de viver remoendo isso. Preciso deixar essa decisão registrada. Preciso colocar um ponto final nessa história. Ponto final.
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